1. O Parvo distingue-se, logo de início, das personagens anteriores. Justifica esta afirmação.
Tanto o Fidalgo como o Onzeneiro ficam indignados quando o Diabo os intimida a entrar na Barca do Inferno e respondem-lhe de forma arrogante. O Parvo distingue-se destas personagens logo na primeira reacção ao convite do Diabo, pois responde-lhe com um tom trocista. No entanto, a troça tem as suas razões: na inocência do Parvo, seria natural que o homem voasse.
2. Interpreta o silêncio do Diabo perante os insultos do Parvo.
O Diabo não reage às injúrias do Parvo nem o acusa, visto que nada na vida passada da personagem justifica a sua condenação.
3. Atenta nos seguintes versos: Quem és tu? / Samica alguém (vs. 299, 300). Relaciona esta auto-apresentação com o destino da personagem.
A réplica do Parvo à pergunta do Anjo traduz a sua simplicidade e inconsciência, O Parvo representa a candura dos pobres de espírito que não erram por malícia e que, por isso, merecem a salvação.
A réplica do Parvo à pergunta do Anjo traduz a sua simplicidade e inconsciência, O Parvo representa a candura dos pobres de espírito que não erram por malícia e que, por isso, merecem a salvação.
4. O Anjo consente a entrada de Joane na sua barca. Comenta as razões dessa aceitação, com base no texto.
As razões que estão na base de tal assentimento estão relacionadas com a inocência e a simplicidade desta personagem. Por um lado, o Parvo nunca pecou por maldade (“per malícia nom erraste” — v. 301), por outro, a sua condição de simples de espírito garantia-lhe um lugar no Paraíso (“Tua simpreza t’abaste /pera gozar dos prazeres” — vv. 302-303).
5. Apesar de ter direito a entrar na Barca da Glória, o Parvo permanece no cais. Indica a função desta personagem, tendo em conta as suas futuras intervenções.
Gil Vicente terá decidido deixar Joane, no cais, a aguardar com o objectivo de pôr na boca desta personagem as críticas aos que pretendem embarcar. Tirando partido da irresponsabilidade e da inocência do Parvo, Gil Vicente põe-no em cena não para ser julgado, mas para julgar e fazer rir, servindo de comentador.
6. O nível de língua que utiliza, bem como a falta de coerência do seu discurso, são as principais marcas caracterizadoras do Parvo. Comenta esta afirmação.
O Parvo utiliza termos injuriosos e obscenos. Como tal, nas suas falas, predomina o nível de língua popular e, frequentemente, o calão: “caga no sapato” (v. 274), “cornudo atá mangueira” (v. 286) e “mija n’agulha” (v. 295). Além disso, abundam construções sintácticas ilógicas que reforçam a sua pobreza de espírito.
7. Tipifica e explica o cómico predominante na cena do Parvo.
O Parvo tem uma função cómica, ocasionada pelos disparates que profere e pela linguagem insultuosa que utiliza. Deste modo, consegue divertir e criticar simultaneamente (ridendo castigat mores). O tipo de cómico dominante nesta cena é, pois, o cómico de linguagem.
8. Caracteriza o Parvo, sublinhando a mudança de atitude, consoante o interlocutor.
Joane, o Parvo, é um pobre de espírito, ingénuo, inocente, puro e simples. A sua agressividade injuriosa contra o Diabo traduz a sua inconsciência e a incapacidade de controlar os seus instintos. Perante o Anjo, o Parvo muda radicalmente a sua atitude, tornando-se humilde: “Queres-me passar além?” (v. 298). Dada a sua incapacidade do uso da razão, é o próprio Anjo que apresenta os motivos que justificam a sua entrada na Barca da Glória: “per malícia nom erraste./ Tua sim preza t’abaste” (vv. 301,302).
9. Explica a evolução semântica do vocábulo parvo.
Parvo veio da palavra parvum que significava pequeno. A palavra evoluiu semanticamente, perdendo o sentido físico e fixando-se no sentido moral: parvo significa, hoje em dia, tolo, louco.
Sem comentários:
Enviar um comentário
O teu comentário é muito importante para o bom funcionamento deste espaço
Obrigado