Cena Do Fidalgo (Don Arnrique)
Adereços q o caracterizam:
-Pajem: desprezo pelos mais pobres.
-Manto: vaidade.
-Cadeira: julgava-se importante e poderoso.
Argumentos de Defesa:
-Barca do Inferno é desagradável.
-Tem alguém na Terra a rezar por ele.
-É “fidalgo de solar” e por isso deve entrar na barca do Céu.
-É nobre e importante
Pertence:
-À nobreza
Acusações:
-Ter levado uma vida de prazeres, sem se importar com ninguém.
-Ter sido tirano para com o povo.
-Ser muito vaidoso.
-Desprezava o povo.
Referência ao pai de Don Anrique porque:
-É uma denuncia social, porque também o pai do Fidalgo já tinha entrado na Barca do Inferno, isto é, toda a classe nobre tinha os mesmos pecados.
A movimentação dele em cena:
-1º Foi á barca do Diabo que lhe explica para onde vai a barca e falando sempre em tom de ironia.
-Depois foi à barca do Paraíso para tentar a sua sorte, mas o Anjo acusa-o de tirania e diz-lhe de que maneira nenhuma pode lá entrar.
-O Fidalgo volta para a Barca do Inferno e o Diabo explica-lhe todos os seus pecados, fazendo com que ele fique muito triste e arrependido.
Momentos psicológicos da personagem:
-Ao principio o Fidalgo está sereno e seguro que irá para o Paraíso.
-Dirige-se à barca do Anjo, arrogante, e fica irritado porque ele não lhe responde e mostra-se arrependido e desanimado por ter confiado no seu “Estado”.
-No fim dirige-se ao Diabo, mais humilde, pedindo-lhe que o deixe regressar à Terra para ir ter com a amante.
Crítica de Gil Vicente nesta cena:
-Os nobres viviam como queriam (vida de luxúria)
-Pensavam que bastava rezar e ir à missa para ir para o Céu.
Características dadas às mulheres desse tempo:
-Mentirosas
-Infiéis
-Falsas
-Fingidas
-Hipócritas
Caracterização do Fidalgo:
-Nobre (fidalgo de solar).
-Vaidoso.
-Presunçoso do seu estado social.
-O seu longo manto e o criado que carrega a cadeira representam bem a sua vaidade e ostentação.
-A forma como reage perante o Diabo e o Anjo revelam a sua arrogância ( de quem está habituado a mandar e a ter tudo).
-Apresenta-se como alguém importante.
-Despreza a barca do Diabo chamando-lhe “cortiço”.
-A sua conversa com o Diabo revela-nos que além da sua mulher tinha uma amante, mas que ambas o enganavam pois a mulher quando ele morreu chorava mas era de felicidade e a amante antes de ele morrer já estava com outro.
-O Fidalgo é, pois, uma personagem tipo que representa a nobreza, os seus vícios, tirania, vaidade, arrogância e presunção.
Desenlace:
-Inferno
Cena Do Onzeneiro (Usuário)
Símbolos cénicos:
-Bolsão: representa o dinheiro.
Esta personagem pertence:
-À burguesia
“Oh! Que má-hora venhais, / onzeneiro, meu parente!”:
-O Diabo revela, com este tratamento, que Onzeneiro tem semelhanças com ele, é como se fossem membros da mesma família.
-O Diabo sempre o ajudou a fazer o mal, a enganar os outros.
-Agora os papeis invertem-se: é a vez de o Onzeneiro ajudar o Diabo.
Defesas:
-Ter morrido sem esperar.
-Não ter tido tempo de “apanhar” + dinheiro (esta queixa mostra que para esta personagem o dinheiro era importante).
-Jura ter o bolsão vazio.
-Precisa de ir à Terra para ir buscar + dinheiro (para comprar o Paraíso).
Acusações:
-Anjo: acusa-o de levar um bolsão cheio de dinheiro e o coração cheio de pecados, cheio de amor pelo dinheiro.
-Ser avarento.
O Onzeneiro é condenado pelo Anjo ao Inferno porque:
-Leva o coração cheio de pecados, cheio de amor pelo dinheiro e o bolsão representa esse dinheiro.
O Onzeneiro interpreta a recusa do Anjo como:
-Que por não ter dinheiro não pode entrar no Paraíso.
-Ele pensa que com o dinheiro pode comprar tudo e resolver tudo.
A vida do Onzeneiro:
-Avareza (só pensa em dinheiro).
Gil Vicente dá esta pobre caracterização à vida da personagem porque:
-Todas as personagens são personagens tipo.
-Não podem representar características pessoais.
Desenlace:
-Inferno
Cena Do Parvo (Joanne)
No passado o Parvo representava:
-Uma pessoa pobre de espírito (pertencia ao povo).
Não vai para o inferno porque:
-Não agiu com maldade.
-Não tem pecados.
Símbolos cénicos:
-Não trás nenhum símbolos cénicos porque os símbolos cénicos estão relacionados com a vaidade terrestre e os pecados cometidos.
-O Parvo não tem nenhum tipo de pecados.
Defesas:
-Anjo: tudo o que fez foi sem maldade.
O Parvo não usa nenhum tipo de argumento para convencer o Anjo a deixá-lo entrar no Paraíso porque:
-Não teve tempo de dizer nada, a sua entrada naquela barca foi autorizada de imediato.
-O Anjo deixa-o entrar porque tudo o que fez foi sem maldade.
“Quem és tu? / Samica alguém”:
-Revela a sua simplicidade
-A resposta está relacionada com o seu destino que é o Paraíso.
Caracterização desta personagem:
- Simplicidade, ingenuidade, graça, auto-caracteriza-se ao Diabo como “tolo”.
-Queixa-se de ter morrido.
-As suas atitudes ao longo da cena são descontraídas, o que irrita o Diabo que o quer na sua barca.
-O Diabo é insultado por ele.
-Esses insultos revelam a sua pobreza de espírito.
-Apresenta-se ao Anjo como “Samica alguém” e este diz-lhe que entrará na sua barca, porque todo o que fez foi sem maldade.
Desfecho:
-Fica no caís e entra com os quatro Cavaleiros.
Cena Do Sapateiro (Joanatão)
Símbolos Cénicos:
-Avental: simboliza a profissão.
-Carregado se formas de sapatos: simbolizam a sua profissão e vem carregado pelos seus pecados.
Esta personagem representa:
-O povo.
Acusações:
-Roubava.
-Enganava.
-Religião mal praticada.
Defesas: (práticas religiosas):
-Rezava e ia à missa (o fidalgo usou a mesma defesa).
-Fazia ofertas à igreja.
-Confessava-se.
-Fez todas as práticas religiosas.
Crítica feita por Gil Vicente a todas as rezas:
-Forma superficiais de como os católicos praticavam a religião.
-Julgavam que as rezas, missas, comunhões, tinham mais valor que praticar o bem.
Desfecho:
-Inferno.
Cena Do Frade (Frei Gabriel)
Símbolos cénicos:
-Hábito de frade.
-Escudo.
-Capacete.
-Espada.
-Moça( )
Críticas com esses símbolos:
-Desajuste entre a verdade religiosa e a verdade que ele levava ( verdade mundana).
-Os símbolos representavam a verdade de prazeres que ele levava, o que o afastava do seu dever à crítica religiosa.
Pertencia:
-Ao clero (mundano).
Argumentos de Acusação:
-Era mundano.
-Não respeitou os votos de castidade e de pobreza.
O Frade não nega as acusações feitas, pois:
-Pensa que o facto de ser Frade e o seu hábito o vão salvar dos seus pecados.
Argumentos de Defesa:
-Ser Frade.
-Rezou muito.
Apresenta-se com cortesão:
-O que revela que ele frequentava a corte e os seus prazeres, era um frade mundano.
“Gentil padre mundanal”:
-Contradição: encontra-se na palavra “mundanal” e “gentil”.
-O Frade deveria ser uma pessoa dedicada à alma, ao espírito, mas é mundanal, vive os prazeres do mundo, por isso existe aqui uma contradição.
Diabo “(...) E não os punham lá grosa / no vosso convento santo?”
Frade – “E eles faziam outro tanto!” revela que:
-Havia uma quebra de votos de castidade (hábito comum entre eles).
-Esta afirmação alarga a crítica a toda a classe social, pois o Frade é uma personagem tipo, representando toda uma classe social.
Uso do facto de ser Frade naquele tempo:
-Pretende mostrar que o clero se mostrava superior.
-poderia fazer o que quisesse sem ser condenado.
-Mal estar na sociedade por serem cada vez mais frequentes os Frades ricos e poderosos.
O Anjo recusa-se a falar com o Frade porque:
-Tem vergonha do seu réu.
-Não tinha coragem de falar com alguém do clero com tantos pecados (repugnante).
Frade aceita a sentença porque:
-Viu que o Anjo não quis falar com ele
-Porque não cumpriu as regras que deveria ter cumprido.
-Se o Anjo se recusa a falar com ele é porque todos os seus pecados foram graves.
Caracterização do Frade:
-Auto-caracteriza-se “cortesão” (frequentava a corte) o que entra em contradição com a sua classe.
-Sabe dançar tordilhão e esgrimir (qualidades típicas de um nobre).
-É alegre pois chega ao cais a cantar e a dançar.
-Tal como os outros Frades não cumpriu o voto de castidade nem de pobreza, com se comprovava com as suas palavras.
-Está convencido que por ser membro da Igreja tem entrada directa no Paraíso.
-Personagem tipo através da qual se critica o clero
Cena Da Alcoviteira (Brízida Vaz)
Símbolos Cénicos:
-Seiscentos virgos postiços.
-Três arcas de feitiços.
-Três almários de mentir.
-Jóias de vestir.
-Guarda-roupa.
-Casa movediça.
-Estrado de cortiça.
-Dous coxins.
(todos estes símbolos representavam a sua actividade de alcoviteira ligada à prostituição).
Tipo:
-Alcoviteira.
Quando o Diabo sabe que é Brízida Vaz que está no cais ele fica:
-Contente: sabe que ela tem muitos pecados e por isso é mais uma passageira para a sua barca.
-Surpreso / admirado: não esperava por ela tão cedo.
-Surpreendido.
Com o campo semântico da mentira ela revela que:
-É hipócrita.
-Tenta fazer-se de vítima perante o Diabo para convencê-lo do que lhe interessa.
-Hábil e mentirosa.
Quando o Diabo a convida a entrar ela:
-Diz, com alguma arrogância, que não entra sem o Fidalgo.
Perante o Anjo, Brízida Vaz usa outras tácticas:
-A sedução: muda o seu tom de voz, tentando seduzir o Anjo.
-Usa vocabulário de cariz religioso: para o Anjo ter pena dela. E consequentemente:
-Ele ter pena dela.
-A deixar entrar na sua Barca.
-A achar uma boa pessoa.
Argumentos de Acusação:
-Viveu uma má vida (prostituição).
Argumentos de defesa:
-Diz que já sofreu muito.
-Que arranjou muitas “meninas” para elementos do clero.
Caracterização de Brízida Vaz:
-Chegando ao cais na barca do Inferno, recusa-se a entrar sem o Fidalgo, provavelmente eram conhecidos.
-Diz que não é a barca do Diabo que procura.
-Leva vários elementos cénicos relacionados com a sua profissão de alcoviteira.
-Está sempre confiante de que vai entrar na barca do Anjo.
-Defende-se dizendo que sofreu muito, como ninguém, que arranjou muitas “meninas” para elementos do clero e que está orgulhosa por ter arranjado “dono” para todas as suas “meninas”.
-Quando vai à barca do Anjo muda completamente a sua atitude, usando mais o vocabulário de cariz religioso e tentando seduzir o Anjo e fazer-se de boa pessoa.
Desenlace:
-Inferno.
Cena Do Judeu
Símbolos Cénicos:
-Bode: representa a sua religião
Tipo:
-Judeu.
Logo que chega ao cais o Judeu dirige-se para a barca do Inferno porque:
-Sabe que não será aceite na barca do Anjo, já que em vida nunca foi aceite nos lugares dos Cristãos.
-Os Judeus eram muito mal vistos na época e nem poderia admitir a hipótese de entrar na barca do Anjo.
Para entrar na Barca do Inferno ele usa:
-O dinheiro.
Ele usa o dinheiro porque:
-Era uma forma de mostrar que os Judeus tinham grande poder económico, estavam ligados ao dinheiro.
O Judeu não quer deixar o bode em terra porque:
-Quer ser reconhecido como Judeu.
-Não recusa a sua religião.
O Parvo acusa-o de:
-Roubar a cabra.
-Ter cometido várias ofensas à religião cristã a profanar a igreja, comer carne no dia de jejum...
-Ser Judeu.
Em termos de contexto histórico essa acusação:
-Revela que os Cristãos odiavam os Judeus.
-Acusavam-nos de enriquecer à custa de roubos.
-Acusavam-nos de ofender a religião católica, cometendo diversas profanações.
Desenlace:
-Fica no cais (porque ninguém o quer).
Cena Do Corregedor e do Procurador
Símbolos Cénicos:
-Corregedor: vara e processos.
-Procurador: livros jurídicos.
Pertenciam:
-Corregedor: Juiz.
-Procurador: Funcionário da Coroa.
O Diabo cumprimenta o Corregedor com “Oh amador de perdiz” porque:
-Era uma pessoa corrupta.
-A perdiz era um símbolo de corrupção.
A forma de como o Corregedor inicia diálogo com o Diabo aproxima-se da forma como o Fidalgo também o fez.
O Corregedor usa muito o Latim porque:
-É uma língua muito usada em direito.
O Diabo responde-lhe em Latim Macarrónico porque:
-Era para ridicularizar a linguagem utilizada na justiça.
-Para mostrar que essa linguagem não servia de nada.
-Poderiam saber falar bem Latim mas não sabiam aplicar as leis.
O Corregedor pergunta “Há’ qui meirinho do mar?” porque:
-Ele estava habituado a ser servido.
O Corregedor pergunta se o poder do barqueiro infernal é maior do que o do próprio Rei porque:
-Ele na Terra tinha um grande poder.
-Não admitia que mandassem nele.
Acusações do Procurador:
-Não tem tempo de se confessar.
O Diabo acusa o Corregedor de:
-Ter aceitado subornos (ser corrupto).
-Ter aceitado subornos até de Judeus (muito mal vistos naquele tempo).
-Confessou-se mas mentiu.
Defesas:
-Era a sua mulher que aceitava os subornos.
Acho que o argumento usado de defesa do réu foi:
-Errado.
-O Diabo saberia de todo.
-Ele não deveria estar a mentir.
-Não devia estar a acusar a sua mulher porque depois também ela seria condenada.
“Irês ao lago dos danados / e verês os escrivães / coma estão tão prosperados” quer dizer que:
-O Corregedor, quando for para o Inferno, vai encontrar os seus colegas (Homens ligados à justiça).
Gil Vicente julgou em simultâneo o Corregedor e o Procurador porque:
-Ambos passavam informação.
-Ambos faziam parte da justiça.
(Havia cumplicidade entre a justiça e os assuntos do Rei, ambos eram corruptos).
A confissão para eles:
-Não era importante: só se confessavam em situações de risco e não diziam a verdade.
Quando o Corregedor e o Procurador se aproximam do Anjo, ele:
-Reage mal.
-Fica irritado.
-Manda-lhes uma praga( atitude nada normal do Anjo).
O Parvo acusa-os de:
-Roubar coelhos e perdizes.
-Profanar nos companheiros (levavam a religião de uma forma superficial).
Desenlace:
-Inferno.
No Inferno o Corregedor dialoga com Brízida Vaz porque:
-Já se conheceriam da vida terrestre.
Cena Dos Quatro Cavaleiros
Símbolos Cénicos:
-Hábito da ordem de Cristo.
-Espadas.
Pertenciam:
-Aos cruzados.
Defesas:
-Dizem que morreram a lutar contra os mouros em nome de Cristo
Quando chegam ao cais chegam a cantar. Essa cantiga mostra:
-Aos mortais que esta vida é uma passagem e que terão de passar sempre naquele cais onde serão julgados.
Os destinatários desta mensagem são:
-Os mortais.
-Os Homens pecadores.
Nessa cantiga está contida a moralidade da peça porque:
-Fala da transitoriedade da vida.
-Fala da inabitabilidade do destino final.
-Fala do destino final que está de acordo com aquilo que foi feito na vida terrestre.
Os cavaleiros não foram acusados pelo Diabo porque:
-Merecem entrar na barca do Anjo.
-Morreram a lutar pela fé cristã, contra os infiéis, o que os livrou de todos os pecados.
-Esta cena revela a mentalidade medieval da apologia do espírito da cruzada.
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