1. O Frade vem acompanhado de uma moça chamada Florença. Justifica a escolha deste nome à luz da época de Gil Vicente.
Florença é o nome de uma cidade italiana da Toscana que se tornou, no século XV, o centro do Renascimento. Mas a prosperidade acarreta normalmente a corrupção. A moça surge, portanto, como símbolo da corrupção de valores morais.
2. Compara a função de Florença, nesta cena, com a do Pajem na cena do Fidalgo.
Embora Florença desempenhe uma função idêntica à do Pajem, este é mandado embora, enquanto que aquela é condenada por ter pactuado com os pecados do Frade. Assim, o Pajem acaba por ser absolvido por ser considerado uma vítima da tirania e da exploração do Fidalgo; Florença entra para a Barca do Inferno por ser cúmplice do não cumprimento dos votos de castidade.
3. Para condenar o Frade, são apresentados vários argumentos. Enumera-os.
O Diabo sentencia que ele irá para o Inferno, por um lado, por ser libertino e mundano (dançarino e esgrimista): “gentil padre mundanal” (v. 391); por outro lado, por viver amancebado, desprezando assim os votos de castidade que formulara: “Devoto padre marido” (v. 415). O Anjo não se digna sequer a dirigir-lhe a palavra, sendo substituído pelo Parvo que reforça esta última acusação do Diabo: “Furtaste o trinchão, frade?” (v. 466).
4. Refere os argumentos que o Frade alega em sua autodefesa
A defesa do Frade consiste essencialmente em acreditar que o hábito que enverga o livrará das chamas infernais: “E este hábito nom me val?” (v. 390). O Frade deixa ainda transparecer a sua confiança na sua conduta e na reza dos salmos. Tal acontece, porque pensa que se encontra imunizado contra os castigos de Deus, apesar da sua relação amorosa com Florença: “Como? Por ser namorado / e folgar com ua mulher / se há um frade de perder, com tanto salmo rezado?” (vv.409-411).
5. Justifica o silêncio do Anjo nesta cena.
O Anjo nem sequer se digna dirigir a palavra ao Frade, sendo substituído pelo Parvo. O silêncio do Anjo contrasta com a euforia do Frade e obriga a personagem a tomar consciência dos seus pecados. Mesmo assim, parece que o facto de ser condenado não o deixa muito atormentado.
6. Caracteriza a crítica do Parvo.
A crítica do Parvo é irónica e incide sobre o não cumprimento dos votos de castidade por parte do Frade.
7. O Frade faz parte do clero regular que, ao optar pela vida religiosa, assume, por amor a Deus, três votos: castidade, pobreza e obediência. Comenta esta afirmação, tendo em conta a cena do Frade.
O Frade representa a devassidão do clero regular da época, que, em lugar de praticar a castidade, a pobreza e a obediência, leva uma vida mundana, luxuriosa, dissoluta e libertina. Ele próprio se considera cortesão (v. 372), admite folgar com ua mulher (v. 410) e revela--se um espadachim pretensioso (vv. 420-422).
8. Explica a intencionalidade crítica desta cena.
Nesta cena, pretende-se criticar a depravação de costumes do clero. Através da personagem do Frade e por influência da Reforma de Lutero, Gil Vicente critica a Igreja, os seus erros e desvios da missão que lhe compete, a inversão de valores, o materialismo e o esquecimento dos princípios básicos da moral. Denuncia ainda o carácter artificial das orações:
“Como? Por ser namorado / e folgar com a mulher / se há um padre de perder / com tanto salmo rezado?” (vv. 409-412)).
Além disso, a presença de elementos cénicos, como a espada e o capacete, bem como a lição de esgrima, traduzem urna crítica à cópia dos costumes da nobreza por parte do clero.
9. Explicita os processos de cómico presentes nesta cena.
A alegria com que o Frade entra em cena provoca o riso do público. Estamos perante um exemplo de cómico de carácter, igualmente ilustrado pelo comportamento incoerente do Frade. De facto, este apresenta-se a julgamento com a moça, o escudo, a espada, o capacete e o capuz, símbolos da sua preocupação com bens materiais em detrimento dos valores espirituais.
O cómico de situação é conseguido principalmente quando Gil Vicente põe um clérigo a dar uma lição de esgrima e, contra o que seria de esperar, o Frade revela-se um hábil esgrimista.
O cómico de linguagem domina as falas do Diabo que acusa ironicamente o Frade: “Gentil padre mundanal” (v. 391), “Devoto padre marido” (v. 415) e “Ó padre Frei Capacete” (v. 418).
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