Cena 1 – Abertura (vv. 1-24)
Ancorados no rio da Morte, junto à praia do Purgatório, estão dois batéis: o do Inferno e o do Paraíso. Na sua embarcação o Diabo, ajudado pelo Companheiro, faz os últimos preparativos antes de receber os passageiros. A azáfama é grande; o Diabo procura arranjar espaço a bordo, pois espera muitos viajantes. Na Barca do Paraíso, o movimento é nulo.
Cena 2 – O Fidalgo (vv. 25-180)
O Fidalgo interpela o Diabo, colocando em dúvida que ele consiga passageiros para barca tão deselegante, na qual se recusa a entrar porque, segundo ele, deixou na vida quem por ele rezasse. Assim, dirige-se depois ao Anjo, invocando a sua condição de “fidalgo de solar” para a entrada na barca do Paraíso. Porém, é repelido pelo Anjo por ter sido soberbo, tirano e ter desprezado o povo enquanto era vivo. Volta, portanto, à barca do Inferno e, quando o Diabo o manda remar, diz que tem de voltar a terra para ver sua mulher e a amada. O Diabo informa-o de que a amada já ama outro e de que a mulher agradece a Deus ter-se visto livre dele. Por fim, o Fidalgo entra na barca do Inferno.
Cena 3 – O Onzeneiro (vv. 181-247)
O onzeneiro, quando ia recolher dinheiro, foi surpreendido pela morte, por isso nem uma moeda trazia para pagar ao barqueiro. O Diabo insiste para que ele entre na sua barca, mas, sabendo o Onzeneiro que se trata da barca do Inferno, recusa-se a entrar nela e dirige-se à do Paraíso. Mas, o Anjo recusa-se a embarcá-lo, dizendo que ele tem o coração cheio de usura; o Diabo observa que ele cobrara juros excessivos. O Onzeneiro pretende voltar à terra para buscar dinheiro para o transporte. O Diabo insiste para que entre e reme, pois iria servir Satanás, que sempre o servira a ele.
Cena 4 – O Parvo (vv. 248-307)
Joane, falecido de diarreia, exorciza o Diabo, quando este o quer fazer entrar na barca do Inferno. Em seguida, dirige-se à barca do Paraíso, na qual é recebido pelo Anjo por ser um pobre de espírito, que não tinha consciência dos seus erros. Porém, deixa-o na praia, à espera de outros viajantes.
Cena 5 – O Sapateiro (vv. 308-367)
O Sapateiro recusa-se a entrar na barca do Inferno, porque, segundo ele, morrera confessado e comungado. Mas, o Diabo corrige-o: excomungado, pois no exercício da sua confissão não contara os mil enganos que fizera e os trinta anos que roubara o povo.
Dirige-se à barca do Paraíso, mas o Anjo diz-lhe que, para quem roubara na praça, a barca é a outra; se tivesse vivido direito, teria agora lugar no Céu.
Dirige-se à barca do Paraíso, mas o Anjo diz-lhe que, para quem roubara na praça, a barca é a outra; se tivesse vivido direito, teria agora lugar no Céu.
Cena 6 – O Frade (vv. 368-476)
Entra em cena a dançar com uma moça (Florença) com quem vive e diz-lhe o Diabo que o levará àquele fogo ardente que em vida não temera. Perplexo, o Frade pergunta se por folgar com ua mulher se há-de perder; e se os salmos que rezou em vida de nada lhe valem.
Mas, o Frade, descobrindo o capacete que trazia por debaixo do capuz, tira uma espada, e faz uma demonstração de esgrima, concluindo que um frade com tanta sabedoria não poderia ir para o Inferno. Então, vai à barca do Paraíso, onde o Anjo não lhe dirige a palavra, apenas Joane lhe fala, perguntando onde furtara tão bom bocado (Florença). Desorientado, o Frade entra na barca do Inferno.
Mas, o Frade, descobrindo o capacete que trazia por debaixo do capuz, tira uma espada, e faz uma demonstração de esgrima, concluindo que um frade com tanta sabedoria não poderia ir para o Inferno. Então, vai à barca do Paraíso, onde o Anjo não lhe dirige a palavra, apenas Joane lhe fala, perguntando onde furtara tão bom bocado (Florença). Desorientado, o Frade entra na barca do Inferno.
Cena 7 – A Alcoviteira (vv. 477-556)
Chega a Alcoviteira, Brízida Vaz, com várias moças, e começa a indicar a bagagem que trazia, a pedido do Diabo, toda ligada ao seu mister de enfeitiçar, mentir e encobrir, segundo ela sofrera já tantos castigos corporais que merecia o Paraíso. Então, dirige-se ao Anjo, numa atitude de aparente submissão, de joelhos, com falinhas mansas, pede-lhe que a embarque, mas o Anjo recusou-se, agastado. A Alcoviteira entra, finalmente, na barca do Inferno, até porque, segundo ela, pareceria mal estar tanto tempo na rua.
Cena 8 – O Judeu (vv. 557-604)
Chega o Judeu que insiste com o Diabo para que este permita a entrada do bode que traz às costas. Mas, o Diabo não consente, mesmo que o Judeu pague a passagem. Então, desesperado o Judeu apela aos que já se encontravam a bordo, mas sem qualquer resultado. O Diabo manda-o para outro batel, onde Joane troça dele, apontando-lhe os actos sacrílegos que praticou. Assim, o Judeu não tem entrada em nenhuma das barcas, mandando-o o Diabo ir à toa, ou seja, a reboque com o bode pela trela.
Cena 9 – O Corregedor (vv. 605-676)
O Corregedor chega com um maço de processos debaixo do braço. O Diabo pergunta-lhe como ia o Direito, ao que o Corregedor responde que o saberia pelos processos. O Diabo diz-lhe então que entre na barca. Contudo, o Corregedor nega-se, argumentando em latim, à qual o Diabo responde com o seu latim macarrónico, indicando-lhe as razões da sua ida para o Inferno, onde aliás já estavam muitos escrivães e mestres de Direito.
Cena 10 – O Corregedor e o Procurador (vv. 677-753)
Chega um Procurador (bacharel doutor), que, à semelhança do Corregedor, se recusa a entrar na barca. Então, dirigem-se ambos à barca do Paraíso, junto da qual travam um diálogo com o Anjo e com Joane (este falando também latim macarrónico). O Anjo acaba por lhes dizer que é a barca do Inferno que lhes está destinada. Para lá se dirigem, cumprimentando o Juiz e Brízida Vaz, como gente conhecida das barras do tribunal.
Cena 11 – O Enforcado (vv. 754-825)
Respondendo à pergunta do Diabo, o Enforcado, informa-o de que um tal Garcia Moniz o convencera de que o caminho certo para a bem-aventurança era a morte na forca e a cadeia era o lugar dos escolhidos, antes desta caminhada. Conclui, portanto, que não lhe está destinada a barca do Inferno. Mas, recusada a sua entrada na barca do Paraíso, volta à do Inferno, na qual embarca.
Cena 12 – Os Cavaleiros Encerramento (vv. 826-863)
Entram quatro Cavaleiros, que morreram cativos dos Mouros, ao serviço de Jesus Cristo e da fé católica. Dirigem-se com segurança para a barca do Paraíso, ignorando o Diabo, que os interpela. Um dos Cavaleiros diz-lhe que bastava ter morrido nas Partes de Além, para se justificar a sua ida para a barca da Glória, onde o Anjo os saúda e os faz embarcar, porque
quem morre em tal peleja / merece paz eternal.
quem morre em tal peleja / merece paz eternal.
Sem comentários:
Enviar um comentário
O teu comentário é muito importante para o bom funcionamento deste espaço
Obrigado