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segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Auto da Barca do Inferno - Contexto Histórico


Gil Vicente testemunhou o processo de expansão ultramarina, viveu o período áureo de Portugal. Foi contemporâneo das grandes navegações de Vasco da Gama e observou como o país ficou abandonado porque a atenção fora voltada para o exterior, para as colônias.
O autor teceu profundas críticas a desordem da sociedade portuguesa de outrora: aos valores, a moralidade, ao homem corrompido, a instituição religiosa católica. Gil Vicente não era propriamente contra a igreja, mas era contra o que faziam dela (a venda de indulgências, ao falso celibato de padres e freiras).

Criticou os vícios da sociedade medieval e moderna, colocou o dedo na ferida para denunciar a estrutura opressora e fechada em si própria. Foi o porta voz que delatou a hipocrisia social: frades sem vocação, a justiça corrupta que comungava com a nobreza, a exploração dos trabalhadores rurais.
Antes de Gil Vicente, não havia registro documental de teatros encenados em Portugal, apenas breves representações, de caráter cavaleiresco, religioso, satírico ou burlesco.

As peças de Gil Vicente continham influências castelhanas, mas também possuíam traços do poeta palaciano castelhano Juan del Encina. Existem trechos em que é possível observar o autor inclusive imitando a linguagem do poeta castelhano. Como a corte portuguesa era bilíngue, era bastante frequente essa influência cultural castelhana.
Almeida Garrett, outro grande nome da cultura portuguesa, observou que, embora Gil Vicente não tenha sido o fundador/iniciador do teatro em Portugal, foi a figura de maior destaque no teatro lusitano, deixando para a posteridade os fundamentos de uma escola nacional de teatro.

Onde as peças de Gil Vicente eram encenadas?

A obra de Gil era lida só no interior dos palácios. O autor era, inclusive, sustentado pela rainha. Seu teatro era produzido para entreter a realeza e a fidalguia, e tinha como recurso central o senso de espontaneidade e espírito popular, embora fosse representado para uma plateia de elite. Todos os seus trabalhos tinham forte espaço para o improviso.

Características da escrita de Gil Vicente

A escrita de Gil Vicente é em formato de poesia teatralizada, em rimas. O autor incorpora a variedade linguística e social de sua época nas peças (por exemplo: o nobre usa uma linguagem característica dos nobres, o camponês usa um vocabulário próprio dos camponeses).
É recorrente o uso da sátira, do riso, do ridículo e do achincalhe. 
Todas as suas peças, inclusive o Auto da barca do inferno, possuem um forte cunho didático. A sátira serve para enfatizar as feridas sociais do seu tempo.
De modo geral, os autos são um desfile de tipos ou casos a pretexto de uma alegoria central. O autor trabalhou sobretudo com os tipos sociais: eram personagens caricaturais e folclóricos. Nas suas peças observa-se a descrição detalhada do comportamento, das vestimentas, da linguagem empregada.
Os personagens, de modo geral, não apresentam conflitos psicológicos como no teatro clássico. Não é um teatro individual (com contradições de um eu), é sim uma sátira social, um teatro de ideias, polêmico.
Os personagens representam as suas condições sociais: a ama representa qualquer ama, o camponês qualquer camponês, não há um esforço de individualização. Há tipos humanos como o pastor, o camponês, o escudeiro, a moça de vila, a alcoviteira, o frade. Também figuram nas peças personificações alegóricas como Roma, representando a Santa Sé, personagens bíblicas e míticas (caso dos Profetas), figuras teológicas (Deus, o Diabo, anjos) e o Parvo.

Os tipos folclóricos, personagens humildes, camponeses, fazem rir a corte com a sua ingenuidade e ignorância. O tipo mais satirizado por Gil Vicente é o clérigo, sobretudo o frade, que transparece as suas incoerências da conduta mundana e religiosa (a busca do prazer frugal, a ganância, a cobiça).
Outro tipo interessante é o Escudeiro que imita os padrões de nobreza, se faz de bravo e cavaleiro embora passe fome, tenha medo e seja um desocupado. Os fidalgos são frequentemente retratados como presunçosos e exploradores do trabalho alheio e os juízes, corregedores e meirinhos são, via de regra, figuras corrompidas.

Gil Vicente denuncia os absurdos da corte, as corrupções, os casos de nepotismo, o desperdício com a verba pública.

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